Ao agir de maneira irresponsável, desrespeitando protocolos, Bolsonaro não está pregando no deserto
Folha de S.Paulo, 13 de abril de 2020
Uma mulher invade a telinha, arranca o microfone do repórter que estava ao vivo no SPTV e grita antes de ser cortada: “A Globo é um lixo, o Bolsonaro tem razão”. O incidente mostra a existência de um vírus ainda mais poderoso que o Covid 19: o “bolsonavírus”.
Vitaminado pelo preconceito, obscurantismo e sensação de insegurança, ele se alimentou, com fake News, do desgaste e elitismo do sistema político brasileiro. Considerado um folclórico até 2018, Bolsonaro se tornou o líder desse espectro ideológico que ganhou muitos adeptos.
É um equívoco menosprezar a força e a estratégia do presidente. Mesmo isolado politicamente e desrespeitando os protocolos sanitários, ele não prega no deserto: segundo o Datafolha de 3 de abril, 52% dos brasileiros acham que ele tem capacidade de liderar o país e 58%, não desaprova seu desempenho na crise sanitária (“bom ou ótimo” para 33% e regular para 25%). Esses números coincidem com o fato de 35% dos brasileiros não acreditar na ciência e de 37,5% afirmar que “quando ciência e religião discordam, escolho a religião”.
Se bem implementada, a estratégia sanitária pode, com perdas, vencer o Covid 19. Mas se o “bolsonavírus” prevalecer, uma catástrofe poderá acontecer. Quem acreditava que “ele” seria apenas uma “dorzinha de barriga”, está vendo que é muito mais do que isso.
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